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A reclassificação da obesidade!
Antonio Carlos do Nascimento
10/02/2025 | 09:07
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O Índice de Massa Corporal (IMC) é calculado dividindo o peso do indivíduo (em quilogramas) pelo quadrado da sua altura (em metros) e, embora seja uma ferramenta útil para avaliação geral, não leva em conta a composição corporal, a distribuição de gordura, o metabolismo individual e outros marcadores metabólicos.

Isso significa que muitos com IMC dentro da faixa considerada “normal” podem, na verdade, apresentar riscos aumentados para doenças metabólicas, assim como para outras patologias. Da mesma forma, indivíduos classificados como obesos pelo IMC podem estar metabolicamente saudáveis, caso tenham uma maior quantidade de massa muscular ou uma distribuição de gordura mais favorável.

Um artigo publicado no The Lancet Diabetes & Endocrinology, em 14 de janeiro de 2025, traz um consenso desenvolvido por uma comissão de 58 especialistas, representando várias especialidades médicas e países, que reclassifica a obesidade.

O novo modelo classificatório agrega referências adicionais além do IMC, confirmando o excesso de gordura corporal ao menos por outra métrica, tal qual a circunferência abdominal, por exemplo.

Adicionalmente, a comissão subdividiu a obesidade em pré-clínica, quando ocorre sem comorbidades patrocinadas pelo excesso gorduroso, e obesidade clínica, quando existem sinais, sintomas ou testes diagnósticos mostrando anormalidades na função de um ou mais tecidos ou sistemas de órgãos e, neste caso, tornando imperativo o tratamento farmacológico ou (eventualmente) cirúrgico.

Questionar o IMC como critério diagnóstico é legítimo, mas encontrar vantagens inequívocas para a nova classificação é, por enquanto, ainda mais discutível, pois, em sua elucidação mais clara, impõe o tratamento apenas àqueles que apresentam complicações, enquanto o restante deve ser guiado por orientações comportamentais.

Para alguns, a reclassificação da obesidade estabelece um novo marco na abordagem desta patologia. De meu lado, percebo que, ao menos para esta doença, o que temos feito é dar novas cores para a mesma fotografia.

Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia




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