A visita do presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC simboliza um gesto relevante de abertura institucional. Ao propor a criação de um conselho consultivo com participação de trabalhadores, empresários e representantes da academia, a entidade sindical busca ampliar o espaço de diálogo sobre os rumos da economia. A iniciativa aponta para a necessidade de maior aproximação entre diferentes setores da sociedade e o órgão responsável pela política monetária do Brasil. Ainda que o caráter do conselho seja apenas consultivo, a proposta requer cautela, pois envolve diretamente uma instituição cuja autonomia é um dos pilares do sistema econômico nacional.

A independência do Banco Central, reconhecida por lei, visa assegurar que suas decisões sejam tomadas com base em fundamentos técnicos e critérios objetivos, livres de interferência de grupos específicos. Embora a discussão sobre juros altos, geração de empregos e outros temas relevantes deva ocorrer de maneira ampla, o que certamente inclui a proposta do Sindicato, é importante que essa interlocução não comprometa a neutralidade da autoridade monetária. O risco de que pressões políticas ou corporativas influenciem decisões estratégicas não pode ser subestimado, especialmente em um País que já enfrentou desequilíbrios severos causados por políticas econômicas guiadas por interesses imediatos.

Em uma democracia, como a que o Brasil tem construído desde 1985, pós-ditadura militar, o diálogo é parte essencial da construção de soluções equilibradas que não desamparem a opinião pública. No entanto, é preciso delimitar com clareza as funções de cada instituição. O Banco Central pode e deve ouvir a sociedade, mas sua atuação precisa continuar ancorada em critérios técnicos e no interesse geral da Nação. A participação social é legítima e bem-vinda, desde que respeite os limites institucionais. Manter a autonomia do BC não significa ignorar os desafios enfrentados pela população, mas garantir que as respostas a esses obstáculos sejam construídas com responsabilidade e estabilidade.